Local Seguro para Dispositivos de Alívio
A definição de um local seguro para a descarga de fluidos provenientes de dispositivos de alívio de pressão, como válvulas de alívio e discos de ruptura, é um aspecto fundamental da segurança de processo em diversas indústrias. Um local seguro é aquele que pode receber a descarga sem causar danos a pessoas, equipamentos ou ao meio ambiente. A importância dessa definição reside na natureza potencialmente perigosa dos fluidos liberados, que podem ser inflamáveis, tóxicos, corrosivos ou apresentar altas temperaturas.
Normas e Padrões de Segurança
Diversas normas e padrões de segurança fornecem diretrizes para a definição de locais seguros para dispositivos de alívio de pressão. Entre as mais relevantes, destaca-se a API 521 (Pressure-relieving and Depressuring Systems), uma norma internacionalmente reconhecida que aborda os requisitos de projeto, instalação e operação de sistemas de alívio de pressão. De acordo com a API 521, a definição de um local seguro deve incluir a avaliação das consequências dos efeitos de inflamabilidade, toxicidade e radiação térmica da descarga.
Além disso, a norma recomenda a dispersão dos hidrocarbonetos descarregados para garantir que sejam diluídos abaixo do limite inferior de inflamabilidade antes de atingir o nível do solo ou estruturas elevadas, e a avaliação da radiação térmica gerada pela ignição da descarga, que pode afetar pessoas ou danificar equipamentos.
A API 521 enfatiza a necessidade de uma abordagem padronizada para avaliar a segurança dos locais de descarga em toda a empresa, o que pode ser feito através do desenvolvimento de uma diretriz interna de engenharia. Essa diretriz garante a qualidade da avaliação de riscos durante os ciclos de Análise de Perigos de Processo (PHA). Além da API 521, outras normas relevantes incluem a ISO 4126 (Dispositivos de segurança para proteção contrapressão excessiva), API RP 520-I (Dimensionamento, Seleção e Instalação de Dispositivos de Alívio de Pressão em Refinarias), e ASME Section VIII (Regras para Construção de Vasos de Pressão).
Lições de Acidentes Anteriores: Kuraray America, Inc.
A importância de definir locais seguros para descargas de alívio de pressão é tragicamente ilustrada por diversos acidentes industriais. O incidente ocorrido na planta EVAL da Kuraray America, Inc. em maio de 2018 (acesso ao vídeo do acidente no link), investigado pela CSB (relatório completo no link), serve como um exemplo contundente. A descarga de vapores de etileno de um sistema de alívio de pressão para um local não seguro resultou em uma explosão e incêndio, ferindo trabalhadores e causando danos significativos. O CSB concluiu que o projeto do sistema de alívio de pressão não atendia às boas práticas de engenharia, pois a descarga horizontal não era direcionada a um local seguro que garantisse a segurança das pessoas.
O relatório do CSB destaca diversos fatores que contribuíram para o acidente, incluindo a falta de uma norma de projeto abrangente para sistemas de alívio de pressão de emergência, a presença de pessoal não essencial próximo ao equipamento durante a partida e a ineficácia dos procedimentos de gerenciamento de mudanças. O incidente da Kuraray ressalta a necessidade crítica de avaliar cuidadosamente os riscos potenciais associados às descargas de alívio de pressão e de implementar medidas de segurança robustas para mitigar esses riscos.
Recomendações para Evitar Acidentes
Para evitar a ocorrência de acidentes semelhantes, as seguintes recomendações, baseadas nas descobertas do CSB e nas melhores práticas da indústria, devem ser consideradas:
- Desenvolver e implementar uma norma de projeto de sistema de alívio de pressão de emergência abrangente: Essa norma deve garantir que todos os sistemas de segurança descarreguem para um local seguro, protegendo as pessoas de danos. A norma deve incluir requisitos para avaliar periodicamente os sistemas de alívio de pressão e fazer as modificações necessárias para garantir que cada sistema descarregue para um local seguro.
- Evacuar trabalhadores não essenciais durante condições de perturbação e modos operacionais transitórios, como a partida: A criação de uma zona de exclusão ao redor das unidades de processo durante essas condições reduz o risco de exposição a perigos.
- Realizar análises de proteção de salvaguardas para avaliar a eficácia das medidas de segurança existentes e identificar a necessidade de salvaguardas adicionais ou alternativas: Essa análise deve ser baseada em uma metodologia robusta, como a Análise de Camadas de Proteção (LOPA).
- Implementar um programa para reconhecer os sinais de alerta de incidentes catastróficos, conforme orientação do CCPS (Centro para Segurança de Processos Químicos): O programa deve incluir o monitoramento de indicadores chave de desempenho, o estabelecimento de procedimentos para relatar e investigar quase acidentes, e o desenvolvimento de uma cultura de segurança que incentive a comunicação aberta e transparente.
- Garantir que os procedimentos operacionais escritos estejam atualizados e reflitam as práticas atuais da planta: Os procedimentos devem fornecer instruções claras para a realização segura das atividades envolvidas em cada processo coberto, incluindo procedimentos para lidar com condições anormais de operação.
- Implementar um sistema de gerenciamento de alarmes eficaz que atenda aos requisitos da norma ISA 18.2 (Gerenciamento de Sistemas de Alarmes para as Indústrias de Processo): O sistema deve ser projetado para minimizar o número de alarmes falsos e garantir que os alarmes críticos sejam reconhecidos e respondidos prontamente pelos operadores.
- Considerar os princípios de segurança inerente ao projetar novos processos e modificar os existentes: A segurança inerente envolve a eliminação ou redução de perigos na fonte, em vez de confiar em medidas de proteção para controlar os perigos.
A implementação dessas recomendações, juntamente com um compromisso contínuo com a segurança de processo, pode ajudar a evitar a ocorrência de acidentes graves e proteger as pessoas, o meio ambiente e os ativos da empresa. É importante lembrar que a segurança de processo é uma responsabilidade compartilhada por todos os níveis da organização e que a comunicação aberta, a aprendizagem contínua e a melhoria contínua são essenciais para criar uma cultura de segurança robusta.